PSICÓLOGO ANTONIO CARLOS ALVES DE ARAÚJO- C.R.P. 31341/5- TERAPIA DE CASAL E INDIVIDUAL- RUA ENGENHEIRO ANDRADE JÚNIOR 154- TATUAPÉ SÃO PAULO -SÃO PAULO TELS: 26921958 /93883296
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http://antonioaraujo_1.tripod.com/ Minha página central com textos inéditos na psicologia
Desvendando a bipolaridade
É interessante a invenção de
novos nomes ou diagnósticos para descrever velhas patologias conhecidas. Assim
como a síndrome de pânico foi uma mera derivativa das chamadas fobias, a
bipolaridade é o nome moderno para o chamado transtorno maníaco-depressivo. A
renomeação de moléstias segue o princípio da maquiagem moderna farmacológica,
dando certa ilusão de um instrumento mais efetivo e poderoso no combate à
doença. Como todos sabem, a bipolaridade é definida principalmente pela
constante e repetitiva oscilação do humor e comportamento do sujeito; ora um
estado depressivo, melancólico, ou a euforia, alegria e uma energização que
deixa perplexo todos que convivem com a pessoa. A primeira coisa interessante
para se notar é que ao contrário do que muitos pensam, o fenômeno da
agressividade não se encontra no pólo maníaco, mas justamente na fase
depressiva. A explicação é simples, a agressividade permeia dito pólo como uma
reação à frustração da pouca durabilidade da fase maníaca e também como uma
forma de contaminar completamente o ambiente ao seu redor, “como nunca irei
superar tal situação, desejo que sintam a mesma angústia”. Claro que neste
ponto entram elementos poderosos de inveja e vingança contra o meio.
Infelizmente o bipolar sempre irá comemorar o insucesso ou infortúnio do outro,
a projeção é seu mais puro e doce alimento. (claro que não estou emitindo
um juízo de valor sobre o caráter de ninguém, apenas relatando uma manifestação
comportamental frente ao transtorno)
O que mais chama atenção em tal
enfermidade é quando da passagem depressiva para a maníaca, como disse
anteriormente, há um vigor ou paz de espírito quase que sobrenaturais, causando
uma total frustração no acompanhante ou familiar da pessoa, que não se conforma
que o indivíduo não consiga se estabilizar em tal estágio, pois teria amplos
recursos para tal empreitada. Mas neste ponto, o leitor irá indagar que é
justamente a bipolaridade que não permite tal fato. O que desejo concluir é que
a lamúria, tendência ao auto-sofrimento, autocomiseração é incrivelmente mais
potente do que qualquer princípio da realidade que traga satisfação ou
estabilidade. A mensagem máxima de todo esse processo mórbido, é a insistência
numa ingenuidade ou infantilidade, achando que o meio ao seu redor deve ter
eterna paciência e compreensão perante todos os mecanismos confusos e difusos
apresentados. O bipolar reclama um amor incondicional, ao mesmo tempo em que
tenta condicionar os outros para a aceitação de sua estrutura neurótica de personalidade.
A bipolaridade não deixa de ser um fenômeno psicológico que denuncia com
exatidão o espírito sociológico de nosso tempo: “tenho pleno potencial para o
amor, afeto e harmonia, mas, repentinamente me lembro de meu contrato quase que
vitalício assinado com o caos ou perturbação nos relacionamentos, tudo isso
oriundo de um mimo não resolvido perante uma suposta rejeição das figuras
parentais. O bipolar apela o tempo todo, forçando seu direito ao amor que não
obteve, sendo que não resgata em hipótese alguma suas falhas pessoais nesse
histórico de convívio.
A instabilidade histórica do
bipolar se origina em sua angústia pessoal de identificar quem é o modelo
afetivo que irá lhe proporcionar segurança; ora é o pai, a mãe, ou o ódio
contra ambos, nunca havendo uma linha linear. Parece não existir uma vontade
interna para a superação do problema. A medicação é vista como uma espécie de
império absoluto, sendo que na maioria dos casos a psicoterapia é encarada com
total desconfiança. O fato é que a manifestação mórbida possui um caráter muito
forte de sedução, seja pela pena ou compaixão, exigindo uma resposta constante
de pleno cuidado por parte do meio ao redor da pessoa. A insistência da
psicoterapia passa a ser fundamental, pois acima de tudo, o bipolar deve a si
mesmo uma explicação para todo o seu excesso. Gostaria neste ponto de colocar
uma tese talvez estranha, mas que na minha concepção é bastante inovadora. E se
determinado transtorno mental for um derivado de um protesto familiar ou social
reprimido? Antes que alguém ache tal tese absurda, pensem que o maior medo em
nossos dias é em relação à opinião alheia, coisa que o bipolar dribla com a
máxima maestria, se utilizando da descompensação como escusa de suas atitudes.
Este é exatamente o ponto chave, sendo que a doença é o que sobrou de certa
forma de uma mitigação política e ideológica; a rebeldia ou protesto social é totalmente convertido para o pólo
psicológico. Obviamente não estou querendo inferir que determinada pessoa
avessa à política irá desenvolver a bipolaridade, mas, apenas ressalto o
transporte de um fenômeno social para uma área privada da personalidade. A
mente parece que capta qualquer aspecto importante de algum derivativo social,
sendo que o mesmo jamais se apaga, apenas adquire novo molde ou formato. O bipolar encena num microcosmo toda uma
esfera política e histórica da humanidade, de luta pela atenção, poder,
compaixão, sedução e diversos outros fenômenos sociais. Nunca podemos
pensar num modelo individualizado de tratamento sem a compreensão paralela que
a doença é criativa ao adquirir determinados formatos dos moldes econômicos e
sociais de nossa era.
A grande questão que se coloca é
quando realmente estaremos plenamente motivados a atacar de frente determinado
problema, pois parece que sempre o estamos mascarando ou rodeando. O
desequilíbrio psicológico nunca é por acaso, é principalmente uma seqüência
histórica de frustração e desilusão. Uma reflexão vital que todos devem fazer é
sobre o tipo de poder que tentam adquirir durante a vida: criatividade, poder
econômico, político, sedução e beleza ou através da doença. A necessidade de
ser notado é praticamente um correlato das necessidades fisiológicas do ser
humano, seja de uma forma saudável ou em tons bizarros. Nomeando de bipolaridade
ou psicose maníaco-depressiva, como devemos interpretar a fundo tal fenômeno? Tanto
a ascensão ou o famoso pico, quanto à queda ou depressão, remetem ao famoso
conceito do psicólogo ALFRED ADLER acerca do complexo de superioridade e
inferioridade. A bipolaridade nada mais é do que este intercâmbio psicológico.
Na mania, a euforia, certeza da vitória, autoestima em elevação e sensação de auto-suficiência,
e ainda tentativa de destaque tendo ou não os recursos para tal empreitada; na
fase depressiva o choro, culpa, lamúria, necessidade de projeção do caos
pessoal para outras pessoas, e insistência no mecanismo da sedução, através da
pena ou solidariedade do meio enquanto a pessoa permanecer recaída.
Será que vale a pena, digamos
assim, chamar a atenção ou atuar algo psicossomático constantemente? A resposta
novamente nos remete ao complexo de poder. Se não temos uma vaga cativa na
cena política, social ou econômica, resta o uso do corpo ou enfermidade da alma
para sermos lembrados. É interessante como sempre notei o aspecto mais do que
ambicioso do bipolar. Assim como no começo do estudo, faço um alerta quanto
a qualquer concepção reducionista; sem sombra de dúvida, pessoas abastadas e
com poder também podem descarregar suas frustrações nas enfermidades mentais,
apenas estou salientando a existência do fenômeno em determinadas pessoas onde
impera um vazio de poder pessoal. Quando determinado sujeito começa a notar
que seu espírito talvez seja estéril, começa a manipular ou até brincar com os
conteúdos psicossomáticos citados, visando uma diversificação deformada ou
amplificação corrupta de seu self ou sentido de existência. Ao contrário do
obsessivo, o bipolar rejeita qualquer tipo de ordem ou organização de sua
conduta diária de vida. Tudo é sempre através do improviso ou impulsividade,
sendo que o resultado é bastante óbvio; uma perda em todas as esferas:
econômica, pessoal e afetiva. Pensemos neste ponto na questão do dinheiro;
igualmente ao maníaco-depressivo de antigamente que perdia sua casa em jogo de
azar, o bipolar traça o mesmo caminho de forma talvez resumida ou dissimulada;
dívidas bancárias, protestos contra seu nome, perda de objetos comuns,
esquecimento ou falta de cuidado com seus bens, enfim, jamais consegue cuidar
efetivamente de seu patrimônio, pois se sente eternamente miserável ou
dependente, atuando como uma criança que não tardará a estragar algo valioso
que lhe foi fornecido ou conquistado, o consumismo é apenas uma fachada contra
a terrível ansiedade que se abate sobre a pessoa.
Outra característica notável no
bipolar é que o mesmo se dá plena autorização para vivenciar o egoísmo sem
nenhum remorso ou culpa; faz uma matemática singular; todo o sofrimento de seu
passado terá de ser pago e aceito sem reclamações acerca de sua conduta
narcisista, egóica e individualista. Seus disparates são vistos pelo próprio
indivíduo como uma excentricidade criativa e louvável; dando a entender que o
sinal de estar vivo é sempre o comportamento de risco ou tensão. O bipolar
manipula um palco para a apresentação quase eterna de uma personalidade
neurótica que não dá quase nenhum sinal ou vontade de mudança. O que temos de
perceber é que o desafio extremo contra a civilização ou moralidade saudável
não é apenas a conduta agressiva ou marginal, mas, como FREUD pontuou com
maestria, a neurose se incumbe de dita tarefa de uma forma onde não será achada
ou combatida. Recalque não é apenas energia sexual ou afetiva parada, é antes
de tudo um combate violento e quase que invisível às regras e normas instituídas,
principalmente às que dizem da normalidade e saúde psicológica. Como estou
dizendo neste estudo, a tarefa básica é colocar seu mundo de caos e lamúria
pessoal acima de qualquer conceito racional de prazer ou satisfação. Novamente
falando do passado o maníaco-depressivo usava sua doença ou regressão como uma
fuga de sua realidade insuportável; o bipolar insiste em obter mais alguma dose
de mimo ou proteção, mesmo que há muito já tenha passado de tal fase, o
saudosismo será sua marca no transcorrer da vida. Sobre a questão
comportamental é interessante notar alguns sintomas adjacentes em tal moléstia,
um deles é a neurose obsessivo-compulsiva ou o moderno “toc” (transtorno-obsessivo
compulsivo), mais uma vez um novo nome para um velho problema conhecido. Mas o
curioso é que sua obsessividade é totalmente restrita a certa área, ou círculo
de atuação bem reduzido: mania de limpeza apenas em um cômodo da casa, em seu
corpo também, citando dois exemplos. A análise deste círculo diminuto de
poder ou preocupação é simples; é uma denúncia ou reprodução de sua carência ou
sensação de ter obtido pouca atenção afetiva de seu meio, ou seja, reproduz sua
miserabilidade emocional em determinadas manias.
Fato é que determinadas pessoas
famosas ou célebres, como observei também desenvolvem os sintomas citados, o
que refutaria todas as colocações anteriores, porém, em defesa de meio
argumento deixo claro que o bipolar utiliza determinado estratagema em virtude
de sua imensa carência ou baixa estima, já determinadas pessoas notórias
desenvolvem todo o comportamental descrito pela culpa ou a famosa neurose de
êxito, tão bem descrita por ALFRED ADLER, como sendo uma solidariedade
neurótica para os não afortunados, destruindo seu próprio potencial pessoal
para tal finalidade. Mas tal fenômeno não entraria em choque com o egoísmo de
nosso modelo social? A resposta é não, porque o destaque também irá cobrar um
preço, e o mesmo pode vir a ser a vulnerabilidade para todo o tipo de crítica
do meio. A diferença entre a descrição dessas pessoas notórias e o bipolar, é
que este último lida, desvia ou contém muito bem o sentimento de culpa, pela
obrigação da dívida do meio para seu afeto reduzido. Três coisas o ser
humano jamais conseguirá, pelo menos até o presente; imortalidade, sentimento
de segurança, e blindagem contra a vergonha ou crítica da sociedade, mesmo que
tenha obtido sucesso ou poderio econômico. O bipolar segue o mesmo traçado
da problemática das drogas, ou melhor dizendo, uma total insensibilidade
perante as pessoas que o acompanham, principalmente na esfera econômica,
obrigando gastos excessivos para o tratamento sem nenhum remorso ou senso do
sacrifício para cobrir tal necessidade. É valioso dizer que esta questão que
estou discutindo se assemelha novamente à questão da medicação psiquiátrica em
nossos dias, num primeiro momento há uma melhora, para depois, o remédio se
tornar um ícone por si só, independentemente se produz ainda ou não resultados.
É como se uma determinada substância química cobrasse o preço de seu efeito
muito além do que o indivíduo está habilitado a pagar, não é esse o problema
central do drogadicto? Se pensarmos em termos estruturais a coisa se torna até
um pouco mística ou paranormal, como se algumas pessoas tivessem um convite
especial para usufruírem de todo sofrimento sem nenhum limite ou prazo de
validade. Um passe livre permanente ao caos desenfreado ou até sem propósito se
fizermos uma análise profunda pelo lado racional.
Retomando o aspecto da infantilização do bipolar, tal fenômeno é uma reação pretérita, presente e futura contra a terrível angústia da morte, pois a partir do momento que jamais aceito o crescimento ou evolução, simbolicamente estarei adiando o triste fim de todo ser humano. O problema é que tal conduta tem sérios efeitos colaterais, pois mescla fases de desenvolvimento que geram conflitos internos poderosos, e o resultado é a insatisfação crônica acerca de si própria, nada o satisfaz, sendo que até o lado positivo ou determinado ganho é encarado com queixas ou desconfiança. Mas se o bipolar lida muito bem com a culpa, já não o consegue com a questão do arrependimento. E qual seria a diferença entre os dois? A culpa é um processo rígido, crônico, estabelecido ou extremamente embasado na personalidade do sujeito, é uma espécie de estilo de vida ou traço marcante de seu self. O arrependimento se assemelha mais a um estratagema infantil para a comoção ou evitar a agressividade ou vingança do outro por alguma falta cometida. A prova disso tudo é que se pensarmos na culpa, a mesma tem raízes históricas, pois na maioria das vezes imputa no semelhante uma fragilidade inexistente, sendo que a pessoa acha que o outro será destruído por determinado comentário ou ação, a culpa reduz plenamente a capacidade de absorção do outro, sendo que o arrependimento quer motivar a compaixão. Um fenômeno curioso que noto há algum tempo é que parece que determinadas pessoas vivenciam ou atuam problemáticas que não são verdadeiramente de seu íntimo, mas que são emprestadas de seu meio circundante, como se fosse uma terceirização do sofrimento como brincou um de meus colaboradores dos meus textos. Tal situação novamente se remete à culpa ou solidariedade com o caos alheio, um acordo mais do que mórbido para a pessoa adiar a resolução de seu problema íntimo, sentindo que o mesmo é quase que insuperável; obviamente fica mais fácil depositar as energias na consecução da resolução do problema do outro.
Voltando a questão da medicação,
novamente faço um alerta para o extremo cuidado ao ser ministrada, pois a química
tem o simbolismo da emergência, sendo tudo que o espírito do bipolar está
acostumado e não consegue afastar.
Acho que está claro até o presente ponto que fica quase que impossível o
estabelecimento de limites comportamentais em tal enfermidade, o que seria a
cura se tal ato fosse possível. O problema é que qualquer tentativa externa é
sempre inócua e só produz mais rebelião e protesto, dado que o bipolar ama com
paixão a extravagância, rebeldia infundada ou o protesto inútil. A essência
do desvio comportamental é exatamente se alimentar da preocupação ou esforço
para sua extinção ou cura, esta é sem dúvida alguma a contradição máxima jamais
resolvida pela psicologia ou psiquiatria. A coisa é tão clara que na
experiência clínica noto que o bipolar apenas faz uma reflexão de suas atitudes
na extrema perda ou rompimento, quando não consegue mais ser o centro do palco
através de sua neurose, sentindo que a pessoa ao lado desistiu literalmente de
todo o esforço para uma melhoria da condição em que o sujeito se encontra.
Nesse momento respinga no mesmo um ar adulto ou consciência de sua
responsabilidade seja afetiva, profissional ou social, porém, não tardará a se
utilizar novamente de sua arma preferida para que as coisas permaneçam do mesmo
jeito que outrora, apelando incessantemente para a compaixão ou piedade de seu
infortúnio. Notem que todos detestam o termo piedade, pois se refere a uma
pessoa totalmente despotencializada ou desprovida de capacidade de gerir sua
existência. Porém, o bipolar sempre arruma uma forma genuína de transformar
aquela piedade vergonhosa num triunfo de suas expectativas ou atos desajustados
a fim de perpetuar os mesmos.
Tal tese coloca na encruzilhada
talvez quase que toda a história da psicologia, acerca do fenômeno da escuta. Este
muitas vezes passa a ser uma espécie de sonífero contra a percepção da
dificuldade de mudança ou transformação verdadeira. Não estou tampouco
defendendo nenhuma abordagem comportamental ou imposição de regras, o que seria
totalmente infrutífero, ressalto apenas o lado pouco prático da psicoterapia,
pois a resistência se acha na própria queixa do paciente ou na escuta passiva
do terapeuta, sendo a missão máxima do mesmo desvendar todo o rol de mentiras
que o sujeito interpreta acerca de seu problema. Nunca uma queixa é isolada,
nem mesmo os chamados fenômenos psicossomáticos, ou orgânicos, tudo forma um
palco nebuloso de continuar na mesma, mesmo com todas as perdas de tal escolha.
Mas então se trataria de uma espécie de masoquismo e a psicoterapia apenas
seria uma desculpa para dizer que se tentou algo novo? FREUD, ADLER, JUNG,
todos tocaram no chamado mecanismo da compensação que a doença produz, desde a
atenção até evitar a humilhação de um teste real caso a pessoa não se
escondesse atrás de determinado infortúnio. Retomando minha velha idéia, o
distúrbio neurótico se torna uma espécie de vírus ou entidade com inteligência
própria e sentido de sobrevivência, não é a toa que os antigos confundiam
doença mental com possessão, e ao invés da psicanálise ir a fundo nisso, se
escondeu atrás de preconceito ou um falso senso científico dos fatos. Uma prova
dessa tese toda é a característica do neurótico se cercar de pessoas tão ou
mais problemáticas, mascarando por completo todo o seu dever de evolução
psíquica ou melhor dizendo, zerando sua dívida para com a saúde. Tudo o que
estou falando serviria para diversas moléstias; depressão, compulsão, paranóia
dentre outras e obviamente bipolaridade. A neurose nunca foi criativa por
natureza ao contrário do que podemos pensar, mas tal fato nunca serviu de
atenuante para seu alto poder destrutivo na pessoalidade do ser humano. O
bipolar é apenas uma variação um pouco mais moderna, tomando todas as
características de chantagem emocional num patamar extremamente potencializado,
onde a diferença de outrora é o perigo real, pois nunca mede conseqüências. Não
chega a ser um suicida, mas sabe como ninguém matar todo um equilíbrio
emocional, familiar e afetivo.
Se todos os filósofos e grandes
pensadores destacaram a necessidade da descoberta do sentido da vida, cabe a
psicologia descobrir a causa do real e verdadeiro sofrimento que abala a
estrutura psíquica. Antigamente a doença mental levava certamente ao óbito;
hoje em dia, seguindo a tendência da medicina no tocante ao prolongamento da
expectativa de vida, notamos que o abalo psicológico tenta se eternizar sem
destruir a vida biológica da pessoa. Retomando as diferenças ou semelhanças
entre bipolaridade e transtorno obsessivo-compulsivo, é interessante a falha na
recomendação da conduta sobre o tratamento. Muitos avaliam que a terapia
comportamental é a melhor solução para ambos os casos, se esquecendo que o
esforço para eliminar tais moléstias, já é sem sombra de dúvida o combustível
para a perpetuação das mesmas, pois ambas se alimentam de uma atenção
consciente e inconsciente sem precedentes no âmbito psicológico. Na verdade o
transtorno obsessivo compulsivo não deixa de ser a loucura da segurança
ilimitada transportada para todo o tipo de mania (“não admito em hipótese alguma
perder as coisas conquistadas em meu suposto reino pessoal”), já a bipolaridade
tocando novamente na diferença é justamente o inverso, uma espécie de esporte
radical da mente, levando a mesma a todo tipo de excesso ou desajuste pessoal e
social. Se pensarmos no próprio complexo de Édipo ou a clássica noção do trauma
em termos da psicologia, veremos que ambos remetem sempre à canonização do
passado, seja revivendo o sofrimento ou o saudosismo de um prazer que foi real
ou imaginado pelo sujeito, o fato é que no distúrbio da bipolaridade as coisas
são semelhantes, regredir, necessidade constante de ser cuidado e amparado.
O bipolar assim como a maioria
dos drogadictos não vislumbra nem de longe a hipótese de uma tomada de decisão
para a resolução de seu caos pessoal; as conseqüências são mais do que
conhecidas, perda de oportunidades em todas as esferas: profissional, social e
afetiva. No decorrer deste estudo, venho salientando um paralelo pouco notado
pela medicina e psicologia entre bipolaridade e infantilismo. Todas as armas
serão usadas para a manutenção deste último, e é neste ponto que a bipolaridade
irá se confundir quase que totalmente com o fenômeno da loucura ou
esquizofrenia, pois não medirá nenhum esforço em qualquer manifestação mórbida
para a consecução de tal objetivo, seja através da histeria, compulsão ou
toxicomania. Todo profissional experiente já notou há muito tempo que tal
transtorno talvez seja o maior desafio da saúde mental das últimas décadas,
pois assim como a drogadicção, parece que qualquer esforço sempre acaba em
desilusão ou fracasso. Por acaso alguém tinha a ilusão de que numa sociedade
que potencializa toda esfera negativa o tempo todo, o distúrbio mental não iria
mimetizar da mesma forma? O fato é que estamos nos deparando com desafios
mentais extremamente amplificados, e parece que só estamos narcotizando ou
mascarando os nefastos efeitos de nossa vida cotidiana permeada pela
competição, disputa de poder e inveja. Infelizmente em tais pecados capitais
ninguém ousa adentrar, conseqüência de um puritanismo maléfico para qualquer
espírito que deseje alguma evolução na alma humana.
Enfim, cabe uma reflexão
científica acerca do que é realmente constituída a doença mental ou distúrbio
psicológico? Desequilíbrio hormonal, variações do sistema límbico ou do
hipotálamo, instabilidade nos níveis da serotonina; creio que tudo isso é mais
do que verdadeiro se analisado por equipamentos eletrônicos ou de última
geração da medicina contemporânea, mas se desejarmos uma análise meramente humana
veremos que seu início sempre ocorre na recusa do avanço ou desenvolvimento
interpessoal; sabotagem da criatividade visando reviver uma etapa de vida
totalmente ultrapassada e não condizente com a atualidade do indivíduo. Que
imensa mentira aquele provérbio que todos almejam a felicidade ou satisfação;
FREUD provou as barreiras morais para a consecução do prazer genital genuíno, e
hoje em dia vemos barreiras totalmente dissimuladas que limitam um sentido de
vida saudável ou frutífero para a pessoa. A diferença é que no começo do século
vinte a fala era praticamente proibida, daí o advento da psicanálise como
socorro de uma alma torturada pela tirania moral, e hoje o discurso do sujeito
é totalmente alienante e sem sentido, pois a maioria procura um prazer que
jamais foi seu, apenas imitação de símbolos impostos pela sociedade de consumo
que está pouco se importando com a saúde mental das pessoas, e sim, o quanto as
mesmas estão dispostas a gastar ou se endividarem; sofrimento é uma solidão
incurável por se buscar algo totalmente imaginário ou irreal, e é isto que se
faz neste mundo há muitos séculos, embora com mais virulência nas últimas
décadas. Todos se esqueceram que há nítida diferença entre satisfação, prazer e
felicidade; o primeiro fenômeno é quase que totalmente corrompido pela inveja e
competição, levando o indivíduo para caminhos distantes de se verdadeiro self;
o segundo tão estudado por FREUD é plenamente contaminado pela estrutura e
histórico familiar do sujeito, fazendo com que o mesmo seja solidário ou repita
o sofrimento dos pais em todos os contextos dos relacionamentos; o terceiro não
diz de ausência de sofrimento, nem de se viver numa ilha ou paraíso artificial,
mas de uma mente capaz sempre de fazer leituras profundas e verdadeiras e é isto
que está em total escassez em nossa sociedade, uma capacidade verdadeira de
análise pessoal e social, e como o indivíduo se enquadra nesse processo e quais
serão suas reais escolhas, sem o vício ridículo de culpar alguém por
determinado infortúnio ou insucesso. Felicidade é a capacidade eterna de
reação, mesclando elementos de ódio e amor, mas nunca caindo na armadilha da
destrutividade ou vingança, apenas exigir para si próprio a retomada da energia
exaurida ou perdida, quando digo ódio, não é aquele fomentado diariamente pela
mídia ou a sociedade insensível em que vivemos, mas o apelo para a reação do
sujeito, que o mesmo fique com rancor de seu vício de sofrer e tente algo
criativo, que possa lhe abrir o horizonte para uma conquista verdadeira, esse é
sem dúvida o paraíso do prazer e preenchimento da alma.